Escrito por: Unknown
sábado, 17 de maio de 2014
Nas duas últimas matérias da série sobre a história do
mangá, desde o início no séc. XII até o ápice meteórico em meados dos anos 90,
falamos de sua concepção e desenvolvimento, e como a falta de planejamento pode
levar algo que está dando certo ao fim, mesmo que esse não seja aparente.
Repetindo o mesmo erro que o Exército Japonês cometeu na Segunda Guerra
Mundial, a pausa necessária para a reformulação nas histórias em quadrinhos
orientais não foi feita, e o “Quarteto do Terror” dos mangás entrou em cena:
Fan-service, Internet, videogames e light novels.
Com a demanda gigante de mais mangakás para mais revistas
semanais, quinzenais, mensais e bimestrais que apareciam mais do que o Neymar
na Globo, qualquer pessoa que desenhasse razoavelmente mais ou menos estava
contratada, e não precisava ter uma boa estória em mãos para colocar no papel,
era só dar o que o povo queria. E o que a marmanjada queria era ver garotas com
seios do tamanho de melões mutantes em poses sensuais com pouca roupa e
mostrando a calcinha a cada dois quadros. Assim nasceu o primeiro dos males: o
Fan-service. A qualidade das histórias foi ficando cada vez mais de lado, os
concursos e feiras realizados pelo Japão não eram mais suficientes, vários
mangakás tinham obras paralelas e trabalhavam como condenados, o que vinha era
lucro. E muito lucro.
A queda começava quando um outro gigante surge no
caminho do mangá: a internet. A princípio ela não causou muitos problemas,
porque transformar uma revista física em revista digital levaria milhões de
trabalhadores para o olho da rua em todo o país, gráficas inteiras ficariam sem
trabalho, fora que a mania de downloads intermináveis e sites especializados em
anime/mangá ainda não havia surgido. A grande rede começou a atrapalhar a vida
dos mangakás e das editoras no momento que os ajudantes de vilões vistos por
muitos como heróis chamados de Fansubbers apareceram (se quiser saber mais só
clicar no link). Traduções de mangás feitas gratuitamente em uma rede
mundial de fácil acesso. Animes legendados muitas vezes corrigindo erros que a
própria emissora deixou passar. Tudo isso foi afastando cada vez mais os
leitores de suas leituras, enfraquecendo as vendas.
E como dizia Murphy “se uma coisa tiver de dar errado, ela
dará errado da pior maneira possível”. E no caso do mangá essa lei foi
absoluta. Até os consoles, que outrora serviram de empurrão para as vendas com
títulos baseados em mangás agora tiravam cada vez mais os leitores com games e consoles
mais avançado. E o líder disso foi o Playstation e seu irmão Playstation2 com
gráficos muito mais avançado que os 64 bits do Nintendo64
ou dos simplórios 32 bits do Super Nintendo, dando aos gamers a chance de jogar
o seu anime preferido com uma qualidade melhor. E muita gente pensava que era
mais legal jogar Dragon Ball Budokai Tekaichi 2 do que acompanhar o final épico
da série no mangá no começo dos anos 2000. Mais uma batalha perdida, dessa vez
para um antigo aliado.
E para terminar com a maré de azar dos japoneses, o mais
devastador dos males apareceu: light novel. Como o nome diz, é uma novela, mas
escrita. Essa foi a sacada genial, porque para uma população acostumada a ler,
nada melhor do que leitura. E leitura boa, porque ali parava as boas histórias.
A maioria dos leitores sensatos não se renderam apenas as histórias cheias de
Fan-service e continuaram a buscar em outras mídias o que eles queriam. E as
editoras sentiram tanto o golpe que começaram a exportar várias histórias das
light novels para o mangá. Algumas talvez vocês nem soubesse, mas animes como Trinity
Blood, Lodoss War e Fullmetal Panic vieram dessa safra. E o diferencial é que o
público dos light novels é diferenciado, sendo assim se não tiver boas
histórias não tem renda. A última saída era contratar fanzineiros com talento e
boas idéias na cachola. Mas para a surpresa das gigantes dos mangás, eles não
se venderam, porque a maioria não ganhava nada para publicar os fanzines, mas
tinham público, e melhor que isso: dignidade. E não se venderiam para um
sistema como esse que transforma bons mangakás em peões.
Terminamos a série das matérias da história do mangá, espero
que tenham curtido e fiquem de olho nas novidades do blog.